26 janeiro, 2015

“Eu gosto de quem se revela, não se esconde, não se
amedronta.
Gosto de quem não sabe tudo.
De quem sabe ganhar, mas também perder com dignidade.
De quem curva a cabeça, quando necessário, 
fala olhando nos olhos e tocando nas mãos.
De quem adota a esperança e os sonhos como possibilidades.
De quem sabe encantar, dizendo sim ou não.
De quem não precisa gritar para ser ouvido.
Gosto mesmo de quem fala baixo, pausadamente e firme.
De quem não faz tempestades com os pequenos vendavais.
Gosto de quem sabe gostar bonito, sem frescura, sem explicações, sem conceitos longos e causas infinitas.
Gosto de quem não precisa explicar seu jeito de ser.
Gosto de quem aceita e perdoa os deslizes.
Gosto de gente que a gente pode tocar, falar, olhar, reclamar e AMAR. “
Ita Portugal

16 janeiro, 2015

RELACIONAMENTOS DESCARTÁVEIS
Às vezes a gente machuca o outro mesmo sem saber,
assim, nas pequenas indelicadezas do cotidiano. 
Quando se vê, a embarcação já está avariada 
demais para continuar a travessia. 
Os pedaços se desconstroem ali mesmo, 
numa imensidão de sentimentos, palavras e reticências. 
E como é fácil abandonar os destroços daquilo 
que um dia fez viagens tão extraordinárias. 
O desamparo hoje vive lado a lado com a solidão. 
Em uma sociedade carente de cuidados, 
os relacionamentos muitas vezes são tratados 
como objeto descartável e jogados no lixo 
com a mesma facilidade com que se despreza 
uma folha de papel rabiscada.
Manter uma dança a dois é quase tão difícil 
quanto encontrar alguém para subir ao palco. 
Se tudo fossem flores se chamaria jardim e não relacionamento. 
Pela falta de tato em compreender as andanças do outro, 
surgem as brigas e discussões que instigam 
um dos dois a abandonar o navio mais cedo. 
É tão comum a gente jogar tudo para o alto por tão pouco. 
Tanto sentimento bonito que demorou deliciosos parágrafos 
para ser construído. 
Uma divergência de opiniões, um desacordo momentâneo, 
verde ou rosa, calabresa ou quatro queijos, direita ou esquerda. 
É muito mais fácil terminar uma parceria que não está dando certo do que simplesmente tentar acertar os pontos de discordância para que o “tique-taque” do relógio seja encantadoramente o mesmo. 
No mundo da facilidade, quando algo se quebra, na medida do possível, se troca por outro. 
Premissa que infelizmente desancora muitos romances por aí.
De fato, à primeira vista, pode parecer muito mais fácil ficar à deriva. Afinal de contas o mar está abarrotado de peixes. 
Mas se a cada turbulência for necessário recomeçar o fluxo de novo 
e de novo e de novo, a terra nunca será vista. 
Imagine os grandes navegadores voltando ao porto na primeira turbulência. 
Embarcar no caminho do outro também faz parte de uma viagem duradoura. 
Descompassos sempre existirão aqui, ali ou acolá. 
O que importa mesmo é o quanto de você está de fato entregue nesta parceria, e só. 
Caso contrário, é apenas um círculo vicioso de troca de protagonistas
Não existem relacionamentos, pessoas ou momentos perfeitos. O que existem são pessoas realmente dispostas a velejar não importa as condições do tempo. 
O amor é um vento poderoso. 
Quando a gente deixa, quando o coração tá cheinho de permissividade 
ele consegue ser brisa, ventania e furacão na proporção certa, só direcionar as velas que o amor faz o resto.
Relacionamento exige muito mais que disposição, 
demanda constância e perseverança. 
Uma vez que os rumos da embarcação são estabelecidos, na grande maioria das vezes uma boa conversa e respirar (bem fundo) são capazes de fazer milagres. 
Se ainda resta um pontinho que seja de vontade e bem querer, 
reparar as arestas, por mais complexo que possa parecer, 
pode ser muito mais prazeroso e recompensador do que começar o jogo do amor do zero. 
Um brinde aos recomeços e outro tintilar de taças ainda maior para as permanências.
Saiu pela porta porque o livre arbítrio a permitia. 
Voltou, porque sabia que alguém a esperava pacientemente 
segurando as chaves deixadas impetuosamente para trás.
Então vamos consertar, ao invés de simplesmente jogar fora.
Eu digo;
- Trouxe a cola 
E um coração novinho em folha também.

(Baseado em um texto de Danielle Daian)